domingo, 2 de agosto de 2009
Afterlife
Ficar sozinho eternamente não é legal.
Será que é isso o que as pessoas chamam de céu?
A única coisa que posso fazer é observar. Sou um observador.
Já te falei que não me lembro de nada? A única coisa que eu sei é que eu morri, tenho aparência de um garoto de 16 ou 17 anos, tenho cabelos castanhos e olhos verdes. Minha roupa é de um adolescente normal, uma jaqueta azul escuro e uma calça jeans meio rasgada. Também um tênis aí.
É um saco você não saber quem é, de onde veio ou que porra você ta fazendo andando por ai.
Se isso era céu, definitivamente não acredito mais em Deus. Não parece mais ser a pessoa bondosa e misericordiosa que vimos nas histórias.
O que eu estou fazendo agora não é muito importante, já que eu só estou andando pela cidade. Ainda me lembro de onde morri. Foi na frente de um restaurante chinês. Sempre vou pra lá quando posso, talvez com esperanças de recuperar minhas memórias perdidas.
Sempre fico sentado, esperando ver um rosto conhecido. Algo que me lembrasse... Mas ta, sei que é inútil. Mas o que eu mais posso fazer? Eu estou morto, afinal.
Então, hoje era mais um dia monótono. Eu gostava de observar pessoas, famílias. Já que eu podia passar por paredes. Ao mesmo tempo era divertido ser um espírito, mas ao mesmo tempo era muito doloroso.
Voltando ao assunto, eu estava sentado na frente daquele restaurante chinês. Vendo as pessoas passarem. As pessoas passavam na minha frente, ninguém me via. Isso incomodava.
Algo me chamou a atenção... Alguém, pra dizer ao certo. Uma garota de cabelos pretos e curtos. De certo modo, parecia um menino. Mas não foi por isso que ela me chamou a atenção... Foi porque eu tive a sensação de que eu já tinha visto ela antes. Um dejà-vu.
Arregalei os olhos e continuei fitando ela. Será que eu deveria segui-la? Ela não iria me ver mesmo. É, eu faria isso.
Imediatamente passei a segui-la. Ela estava usando uma jaqueta amarela, com umas estampas de caveiras. Calças quadriculadas, um tênis all-star, eu acho. Estava andando com as mãos dentro dos bolsos das jaquetas. E não, ela não estava usando nenhum tipo de maquiagem, só tinha uma aparência meio de menino mesmo. Era estranha.
Fui seguindo ela até a casa dela, aparentava ser grande mesmo. Quando ela chegou em casa, abriu a porta e entrou. A sala era bem grande e espaçosa, decorada com móveis que aparentavam ser luxuosos. Imediatamente quando entrou, correu para as escadas parecendo que estava fugindo de alguma coisa, o que eu não entendi na hora.
- Ei, Rose! Venha jantar! – Ouve-se o grito fino de uma mulher. Só depois vim perceber que a mulher era mãe dela. Ah, consegui também descobrir o nome da garota, que era muito mais feminino que sua aparência.
A garota simplesmente fechou a porta do quarto com força. Eu entrei no quarto mesmo assim né, eu estava em forma de espírito e ela não iria me ver.
Vi que ela estava segurando uma foto. Ela estava segurando uma foto e olhando melancolicamente para a mesma.
- Desculpa pai... Eu acabei não vingando você... – Ela estava prestes a chorar. – Eu... não vou cometer o mesmo erro...
Fiquei com pena dela. Ela havia perdido o pai... Sentei do lado dela, também querendo observar a foto.
Mas imediatamente ela deu um pulo e olhou diretamente pra mim assustada. Eu não pude deixar de me assustar também. Ela largou a foto e caiu da cama.
- Quem é você?! O que você ta fazendo no meu quarto?! – Gritou assustada, olhando pra mim. Perai... ELA PODIA ME VER! CARAMBA, ELA PODE ME VER! Mas não é hora de comemorar, tenho que resolver isso primeiro.
- Você pode me ver?? – Eita, acabei fazendo uma pergunta óbvia demais. Mas já foi, estou feliz demais com essa situação.
- O que?! Como assim?! Sai daqui!!! – Ela foi me puxar, mesmo tendo suas dúvidas sobre mim. Mas ela não conseguiu pegar meu braço. A mão dela simplesmente passou por mim como se eu fosse ar. Deu um frio na barriga quando ela fez isso.
Ela olhou pra mim assustada, arregalando os olhos. Lógico, qualquer um ficaria assim depois de ver um cara estranho em seu quarto que por coincidência é como se fosse ar. Ou seja, um espírito.
- Eu devo estar louca. Eu devo estar louca. – Ela murmurava para si mesma, com as mãos na cabeça. Ainda estava assustada, agora sentada no canto do quarto.
- Ei, ei, ei! O que tem de mal em me ver? Não acha que justamente por eu ser um espírito eu não tenho como fazer nada com você? – Eu falei imediatamente, parecendo desesperado.
Ela fitou meus olhos verdes, agora decidida a fazer alguma coisa. Ela tinha olhos azuis escuros, eram bonitos.
- Quem é você então? O que ta fazendo aqui? – Ela perguntou, irritada. Acho que ela ainda não gostava da idéia de ter um desconhecido em seu quarto. Ah, que diferença eu faria ali? Eu sou que nem ar mesmo.
- Eu não sei quem eu sou. E eu te segui porque eu tive uma sensação de que eu já tinha te visto antes. – Tentei explicar a ela. Ela ainda parecia estar bem duvidosa quanto a minha existência, mas tudo bem.
- Só por causa disso? – Perguntou incrédula.
- Cara, eu passo todos os dias sem fazer nada, sem falar com ninguém, sozinho. Nem me lembro da minha vida passada. Então, essa sensação poderia vir a ser útil. – Tentei mais uma vez. Mas ela nunca passou por isso, aí não sabe o quanto desesperador isso é.
- Mas eu não te conheço. – Ela adicionou obviamente.
- É verdade... Mas você pode me ver, já é um começo. – Agora dei meu melhor para sorrir para ela. Talvez de felicidade mesmo. Eu tinha sorte que uma garota podia me ver, aliás, que alguém podia me ver. Meus dias a partir de hoje não seriam tão solitários.
Ela ficou perplexa com meu sorriso, era de se esperar. Talvez ela não tenha entendido porque eu estava tão feliz que alguém pudesse me ver. Ela virou o rosto desconfortavelmente e cruzou os braços.
- Meu nome é Rose. – Ela murmurou suficientemente alto para que eu ouvisse. Mas eu já sabia o nome dela.
- Eu queria poder falar meu nome também, mas infelizmente não sei quem eu sou. – Eu falei. Até soava cômico, eu poderia fazer algumas piadas com isso.
- Você não se lembra de nada? – Agora ela se levantou, estávamos a alguns metros de distancia. Percebi que ela era pelo menos 15 centímetros mais baixa do que eu. Ou talvez eu fosse 15 centímetros mais alto que ela. Nem sei minha idade, né.
- Absolutamente nada. Nem de quando eu morri. Só alguns detalhes inúteis que envolvem um restaurante chinês e uma garota ruiva embaçada. – Eu falei. Rose apenas me fitou.
- Ta, e agora? Vai me amaldiçoar ou algo do tipo? – Ela perguntou, irritada e impaciente. Batia o pé.
- Lógico que não!! – Respondi desesperado. Nossa, eu preciso de uma terapia. – Pra que eu iria amaldiçoar a única pessoa que pode me ver? Não faz sentido!
- Sei... – Rose falou meio duvidosa. Porque ela era tão cabeça dura quando o assunto era acreditar em mim ou não? – Ai meu deus, que saco. – Agora ela parecia estar bem irritada. Eu devia incomodar mesmo.
- Eu te incomodo? – Eu queria saber, né.
- Não, imagina. – Ela respondeu, irônica e irritada. Nossa, precisava ser tão direta? Que garota malvada.
- Ta, vamos fazer um acordo então, mesmo tendo muitas consequências para minha parte. – Eu falei. Acho que valia a pena. – Você ajuda a descobrir quem eu sou, como eu morri, porque eu morri, quem era minha família, e eu te deixo em paz.
- Aff, porque eu tenho que fazer alguma coisa? – Ela perguntou, fitando a parede incomodada.
- Eu também não vou sair daqui sem ganhar nada. Fique agradecida por eu não ficar te assombrando a noite, garotinha. – Falei tentando dar um pouco de medo.
- Hah, que graça você hein. Muito engraçado. – Ironizou.
- Vai me ajudar ou não? – Insisti.
- Isso vai dar um trabalho... – Ela reclamou. Mas realmente estava pensando no assunto.
- Vai ou não? – Perguntei mais uma vez.
- Ta, eu vou. Mas você tem que me deixar em paz depois disso. Odeio ter homem no meu pé. – Rose falou olhando para suas unhas como se estivesse se gabando.
- Nossa, tem certeza que você é uma garota? – Eu resolvi ironizar também.
- Ta me tirando? – Olhou pra mim irritada.
- Você que ta me tirando. – Eu respondi.
Ficamos nos encarando por um tempo. Até que ela foi em direção ao armário e tirou umas roupas dali.
- Não invente de passar pela parede. – Ela avisou friamente, enquanto entrava no banheiro. Hah, atravessar a parede... Porque no mundo eu atravessaria a parede... pra ver ela se trocando? Err... Ta, ela é uma mulher e eu sou um homem(muito macho viu)... Mas eu ainda tenho orgulho e não sou canalha.
Não demorou muito para ela sair do banheiro. E ela saiu de pijamas. Que era uma calça e uma blusa de manga comprida. Caramba, até pra dormir ela não mostrava o corpo mais um pouquinho? Err... não é como se eu quisesse ver, ta?
Ela foi pro lado da cama e ligou o ar-condicionador. Ela deve sentir muito frio de noite, foi o que eu supus na hora.
- Já vai dormir? – Eu perguntei, incrédulo ao ver que ela já estava se deitando na cama e se enrolando com o edredom. – E comigo aqui?
- Ué, você é uma alma. Não faz diferença alguma. E também não tem pra onde ir, não é? – Ela falou, não olhando pra mim. Percebi que ela podia ser legal às vezes... Ah, eu tinha acabado de conhecer ela. Estou carente demais, que deprimente.
- Obrigado. – Acabei falando, apesar de o meu orgulho estar me enforcando no momento.
- Você não sente sono? – Ela me perguntou, um pouco curiosa. Não parecia estar fria como antes, achei isso legal por parte dela, ao menos.
- Nem um pingo. – Respondi simplesmente. E era verdade. Eu não sinto fome, nem sono, nem me sujo... Sou simplesmente um ar em formato humano que fala.
- Boa noite... – Ela falou, agora se cobrindo completamente com o edredom. E falo completamente mesmo, ela ficou toda coberta, literalmente, do edredom. Parecia que tava se escondendo. Acho que ela deve sentir muito frio mesmo.
- Durma bem... – Falei por ultimo.
Passei a noite observando aquela garota que mudaria minha vida. Ou pós-vida.
Rebirth
Era o ano de 2112. A raça humana estava se recuperando aos poucos da invasão alienígena que havia acontecido há 100 anos que a extinguiu quase toda. Os sobreviventes haviam se reunido em vilas, que agora seguiam antigas tradições.
O sol estava alto no céu, o garoto sorriu satisfeito pelo belo dia. A leve brisa bateu em seu rosto, fazendo seus cabelos castanhos e curtos balançarem. Suas roupas simples também balançavam. Estava usando uma bermuda cheia de bolsos, cor verde-musgo. Sua blusa tinha manga curta, com dois bolsos apenas, era simples e branca. Se sentia confortável com essa roupa.
Adorava essa vila, mas odiava a alienação que a cercava. Às vezes podia jurar que era o único que possuía mentalidade ali. A vila estava tendo diversos problemas, como a morte de diversas crianças. O sacerdote chamava aquilo de “maldição”. Essa “maldição” parecia estar afetando todas as crianças da cidade, fazendo elas pararem de comer e vomitarem até sua morte... Era algo cruel.
Ao contrario de muitos personagens principais, Nik não era órfão. Pelo contrario, tinha pais e seus pais estavam muito bem saudáveis.
O único problema em sua família era seu irmão mais velho, que havia sumido de repente, o que deixou todos muitos preocupados. Ele era próximo do irmão, ficou abalado com a situação, mas não ligou muito. Seu irmão sempre o incentivou a ter aventuras. Foi o que sempre falou em seguir o próprio caminho. Isso era o que devia ter acontecido.
A reunião da vila estava próxima, mas não estava nem um pouco a fim de ouvir as baboseiras que vinha do sacerdote da vila. Sua mãe, que era crente no que o sacerdote dizia, provavelmente iria forçá-lo a ir. Contra sua vontade, claro.
Embora Nik sempre tivesse sido incentivado pelo irmão para ir à busca de aventuras, ele não era bem desse tipo. Preferia ficar em casa, tendo uma vida boa sem preocupações. Seu irmão era o contrário disso.
Nik lentamente abriu os olhos verdes claros, tendo uma boa visão da vila. Não era muito especial, era basicamente um amontoado de casas pequenas e apertadas. O que se mais destacava ali era o templo, que era enorme. Era ali em que o sacerdote morava.
Não entendia porque o sacerdote tinha que ser tão privilegiado enquanto os moradores que trabalhavam e batalhavam para conseguir aquelas casas apertadas. Achava isso revoltante. Além de que o próprio sacerdote dizia ter “o poder de ver o futuro”, em que não acreditava nisso nem um pouco.
Suspirou. Desejava não morar nessa vila.
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Estava com fome, sede, sono... Arfava enquanto caminhava. Devia estar perto da próxima vila. Havia andado demais, não iria agüentar mais por tanto tempo. Suas pernas tremiam um pouco. Era duro viajar sozinho daquele jeito.
Observava a paisagem curioso. Havia escolhido esse caminho, não é mesmo? Seus lábios lentamente formaram um sorriso e seus olhos azuis se dirigiram para o céu, satisfeito. A brisa batia nele, fazendo seus cabelos também azuis se mexerem um pouco.
Suas roupas estavam meio molhadas de suor. Sua blusa regata preta estava coçando pelo fato de ser um pouco apertada. Ainda não entendia porque havia inventado de usar um cachecol vermelho ao redor do pescoço. Também não entendia porque estava usando uma calça azul escuro folgada. Estava bastante incomodado com as roupas, mas já deveria ter se acostumado. Como se não bastasse, ainda estava carregando uma mochila enorme com todas as coisas que precisava para sobreviver essa sua jornada e não podia se esquecer de suas duas espadas.
Embora estivesse muito desconfortável, estava feliz pelo fato de ter finalmente conseguido partir e seguir um caminho. Afinal, ele era um caçador.
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O que ela estava fazendo, correndo desesperada daquele jeito? Tropeçava levemente nas pedras do caminho, seus pés doíam e estavam muito machucados. Seus cabelos róseos estavam bagunçados. Tinha que correr, que continuar correndo. Não iria ficar ali, não mesmo.
Finalmente longe do local, parou para descansar em um lugar escondido. Não iriam achá-la ali.
Tirou a blusa que estava usando antes, ficando apenas com seu sutiã de malha, que mais parecia um biquíni, fazendo seu abdômen ficar a mostra, também umas “marcas” que mais pareciam com tatuagens ficarem a mostra.
Rasgou sua saia, fazendo a parte de frente e a parte de trás ficarem em forma triangular. Por sorte, estava usando um short curto branco.
Estava descalça, desarmada, sem lugar pra ir. Mas levantou-se bruscamente e continuou correndo. Iria conseguir se virar de alguma forma, sempre conseguia. O que não podia aturar era continuar naquele local.
Caído
Por quê?
No meio daquela chuva de pedras, agora via uma luz no final do túnel. Estava vendo o céu, isso era possível? Ia conseguir. Ia conseguir sobreviver. E estava tão certo disso, que não percebeu de imediato a pedra que iria cair em cima dele. Quando percebeu, já era tarde demais. Não tinha como desviar. Iria morrer assim, de maneira tão ridícula? Havia tantas coisas que queria desvendar... Seu passado, suas memórias... Fechou os olhos, esperando o impacto. Pelo menos rezava que não doesse e simplesmente morresse de vez. Nada veio. Esperou alguns segundos. Nada. Havia acontecido conforme tinha rezado?
Abriu lentamente os olhos, para finalmente descobrir como era o paraíso, se é que iria para o paraíso. Mas se decepcionou, de certa forma, a idéia de estar em um lugar melhor parecia bem mais atraente que estar na Terra. Vivo. O que estava. Sem nenhum arranhão.
No fim do túnel viu a figura de um homem. Estava segurando uma espada vermelha como sangue. Larga e estranha. Seu portador também era igualmente estranho. Tinha uma aparência jovem e ao mesmo tempo velha. Cabelo totalmente branco, nas partes mais escuras era cinza. Tinha uma pele clara. Daniel também percebeu que ele possuía orelhas levemente pontudas.
Daniel resolveu avaliar os olhos do homem estranho, ou criatura. Sentiu uma forte pontada no peito, como se estivessem enfiando uma espada. Os olhos negros e sem vida do homem... Eram assustadores. Desviou o olhar o mais rápido que pôde.
Daniel agora fitava o chão, assustado e sem saber o que fazer. Olhou o ambiente ao seu redor. Estava pertíssimo da saída, mas ainda não sabia o que tinha acontecido, até que pôs os olhos sobre a pedra que estava antes vindo em seu caminho. Estava cortada ao meio, um corte perfeito. Mais dúvidas lhe vieram a cabeça.
‘Isso não é feito humano.’ Concluiu, enquanto engolia em seco. Teria sido o homem... Ou melhor, aquela criatura que tinha feito isso? Levantou os olhos, para ver o que aquilo estaria fazendo agora.
O homem de cabelos brancos deu as costas e saiu daquele ambiente empoeirado. Daniel continuou imóvel, assustado. Devia segui-lo? Afinal... Tinha que admitir, se o homem ou criatura tivesse feito aquilo... Tinha o salvado.
Tomou uma decisão perigosa: iria espionar o sujeito. Era o único modo para saber o que ele estava fazendo ali. Com alguns passos rápidos e delicados, saiu daquele lugar e ficou atrás de uma moita. Seus olhos acompanharam o homem. Percebeu que ele agora estava acompanhado de uma mulher. Ele entregou a ela uma pedra preciosa, que ela examinou com atenção. Depois, retornou a pedra à mão do homem, fechando a mão dele usando seus dedos frágeis, que começaram a sangrar assim que entraram em contato. Ela lançou um olhar profundo para ele, em que ele desviou o olhar e tirou suas mãos.
A mulher tinha uma beleza angelical, cabelos negros e curtos, olhos verdes... Suas orelhas também eram pontudas e usava uma roupa de caçadora.
Daniel inventou de se mexer um pouco, o que fez barulho. Imediatamente os dois ficaram em posição de combate. O homem empunhou a espada enquanto a mulher segurou seu arco e apontou uma flecha ao arbusto que Daniel estava. O sangue do garoto de cabelos negros gelou.
‘Droga.’ Pensou, suando frio.
Levantou-se lentamente, com os braços para cima mostrando que estava desarmado, e consequentemente, se rendendo. As duas figuras se aproximaram dele cuidadosamente.
“Quem é você, humano?” A mulher falou, em tom ameaçador enquanto apontava a flecha e segurava o arco com suas mãos sangrentas.
“E-Eu sou Daniel.” Ele gaguejou. “Sou, quero dizer, era, um curandeiro daqui. Mas agora meu reino está em pedaços e devo minha vida a você.” Olhou para o homem enquanto evitava encontrar com seu olhar.
O homem baixou o arco da mulher, mas não baixaram as guardas.
“Está disposto a vir conosco?” O homem de cabelos brancos perguntou, enquanto olhava para ele fixamente. Daniel baixou a cabeça e demorou a pensar. Não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas estava disposto a arriscar.
“Sim.” Respondeu. O que tinha a perder? Tudo que ele se importava havia sumido em um piscar de olhos. Sentia um enorme aperto no peito, uma enorme vontade de chorar, o que deixou guardado.
Não demorou muito que começaram a andar até o seu destino. Daniel não sabia o nome do casal e tinha enormes dúvidas quanto a tudo que tinha acontecido. Sua memória começava a falhar e mal se lembrava do que tinha acontecido antes do reino começar a desmoronar. Mas lembrava-se com clareza do desespero do momento.
Tentou então se aproximar do casal, andando mais perto deles. Não mostraram incomodo, então não demorou a perguntar.
“Quem são vocês?” Foi sua primeira pergunta. Achava que tinha o direito de saber, pois eles sabiam muito mais sobre ele do que ele sabia sobre eles. Percebeu que agora o homem tinha uma faixa branca sobre seus olhos, como se fosse para evitar o contato olho por olho.
“...Eu me chamo Aeron.” O homem de cabelos brancos respondeu, após demorar um pouco. Então olhou para a mulher.
“Eu sou Míriël.” A mulher respondeu, com firmeza. A beleza nos seus traços era evidente mesmo quando demonstrava raiva e determinação. “Sou uma Elfa.” Daí surgiu a resposta para toda sua beleza angelical: era algo genético.
Mas Daniel ainda não ficou satisfeito, ainda não sabia o que eles estavam planejando, para onde estavam indo ou que diabos era Aeron. Resolveu então fazer mais algumas perguntas.
“Para onde estão me levando?” Perguntou enfim.
“Te levando? Não está se equivocando um pouco, humano?” Míriël respondeu com certa rispidez. “Você está vindo conosco por vontade própria, faça o que achar de melhor, só não se ponha em nossa responsabilidade.”
Ficou um pouco assustado com a resposta, mas resolveu se arriscar com outra pergunta boba.
“Já que não respondeste minha última pergunta, poderia dizer pelo menos o que estão planejando? Não gosto de não saber no que estou me metendo.” Foi sincero ao que pôde. Não iria mentir, estava curioso para saber tudo que estava acontecendo, mas não ia adiantar nada se ficasse parado sem falar nada.
“A escolha foi sua, Daniel. Acho que você sabe muito bem que a culpa não será nossa caso você se meta em algo que não queira, tanto que nós nem mesmo sabemos se você quer ser metido nesta situação ou não.” Aeron falou, de forma relaxada e calma. “Mas não se preocupe, não é nada que você não tenha presenciado nesse mundo. Estamos indo para o Norte, para as Montanhas da Perdição.”
Daniel sentiu uma estranha sensação de estar andando com pessoas muito, mais muito mais velhas que ele. Provavelmente já haviam vivenciado muito mais que ele. Conheciam muito mais que ele. Se sentia imaturo e insignificante, perguntas bobas como aquela eram inúteis. Atualmente todos os reinos ao seu redor que conhecia estavam em guerra. Disputando entre si os territórios, sempre almejando o poder. Com o que mais teria que se preocupar?
Resolveu então permanecer em silêncio o resto da viagem, estaria manchando a sua honra se preocupando em coisas bobas em qual seu destino e o que poderia acontecer com ele confiando naquelas duas pessoas. Isso foi o que havia aprendido naquele momento: havia coisas maiores para se preocupar do que apenas seu bem estar. Seu reino estava destruído, pessoas morriam em outros lugares e chacinas cada vez maiores.
Talvez essas pessoas quisessem evitar esses acontecimentos, afinal, foram elas que o fizeram perceber tal fato. Talvez.
A viagem deles foi bastante cansativa, pelo menos para Daniel. Aqueles dois pareciam possuir toda energia possível. Perguntava-se por que estavam indo em direção às Montanhas da Perdição, mas logo iria descobrir.
Observou bastante Aeron e Míriël, juntos eles pareciam um casal, mas evitavam entrar em contato. O que Daniel não entendia. A Elfa já havia feito um curativo em suas mãos, mas o garoto de cabelos negros continuava sem entender o porquê.
De noite fizeram uma fogueira para descansar, comer e se preparar para o próximo dia. Daniel ficou sentado do lado da fogueira. Aeron havia saído para pegar comida, agora que havia três pessoas ao invés de duas, os mantimentos acabaram virando pouco. O garoto de cabelos pretos logo resolveu esclarecer algumas coisas com a Elfa.
“Míriël, porque você fez um curativo em suas mãos?” Perguntou, olhando para as mãos delicadas da Elfa.
“Porque eu me machuquei, não é óbvio, humano?” Ela respondeu, meio que de forma ríspida. Por conta da resposta, Daniel percebera que sua pergunta fora meio que inútil.
“...Não era isso que eu queria saber. Como isso ocorreu?” O garoto de cabelos negros perguntou.
“Porque se importa?” Mais direta impossível.
“Eu...” Estava pensando em continuar a falar ‘não me importo’, mas achou que isso não ia ajudar em nada. Aliás, que só iria piorar ainda mais as coisas. “Eu só queria saber.” Respondeu enfim. “Mas... O que vocês dois estão planejando?”
Nesse momento, Aeron chegou trazendo consigo um coelho e um veado. E estava olhando para Daniel naquele momento.
“É engraçado o fato de você só vir perguntar isso agora, mas faço questão de responder.” Ele falou, olhando para o garoto com os seus olhos negros. Soltou os animais no chão e andou para o lado da Elfa. A sua última frase ficou marcada naquele silêncio.
“Dominar o mundo.”
O próximo dia foi igualmente tediante. Daniel ficou com medo das intenções das pessoas com quem estava andando, além de que resolveu ficar de boca calada para o resto da viagem. Cada vez que fazia perguntas, mais ficava com medo. Não que essas pessoas parecessem serem malévolas... Tinha resolvido segui-las, mas não sabia se estava fazendo a coisa certa.
No que ele estaria se metendo? Dominar o mundo? Definitivamente isso não parecia uma coisa boa... Mas essas pessoas haviam ajudado-o. Aeron havia salvado ele. Uma pessoa com más intenções teria deixado morrer ali mesmo.
Resolveu acompanhar eles, pelo menos até as Montanhas da Perdição. Estavam agora passando por uma estrada aberta. O sol batia nas arvores que cercavam a estrada. Pareciam estar perto de um vilarejo, mas esse caminho se desviava.
Tinha que pelo menos entender o porquê que queriam dominar o mundo. Porque até agora não fazia sentido. Desistiu da sua idéia de ficar calado. Não faria mais sentido. Ele tinha que descobrir mais... Saber mais.
Passou a andar então ao lado de ambos. Era estranho viajar com duas pessoas desconhecidas que eram completamente frias. Só pareciam amigáveis quando estavam juntas.
“Queria saber mais sobre vocês, se é não pedir muito.” O garoto de cabelos negros falou, meio receoso por estar quebrando o silêncio que havia entre eles.
Aeron, que estava usando a sua faixa sobre os olhos, olhou para Míriël.
“Essa curiosidade dos humanos...” Míriël suspirou, depois olhou para o garoto. “Você sabe até demais. E nós não podemos confiar em você. Não ainda.”
“Você está querendo dizer que é pra eu confiar em vocês mesmo que vocês não confiam em mim?” Ele disse, meio que indignado.
“Se quer tanto saber... Você vai ter que entrar para o grupo. E terá que assumir a responsabilidade de ser um membro do grupo. E isso inclui que se você repassar informações, morrerá.” Aeron falou, olhando para a frente, com uma voz decidida.
Grupo? Do que é que eles estavam falando? Isso queria dizer que... Haviam mais pessoas tentando dominar o mundo além de Aeron e Míriël?
“...Que grupo?” Perguntou.
“Vou considerar isso um ‘sim’.” Aeron respondeu. “Estávamos precisando de um curandeiro, você vai servir.”
Daniel refletiu suas ações. Era certo mesmo se juntar a eles? Bem, o que teria a perder, não é mesmo?
‘Talvez minha vida.’ Pensou, hesitando.
“Eu vou ajudar vocês.” Ele decidiu. “Mas com uma condição.” Aeron soltou uma pequena risada.
“Agora é você que tem que decidir as condições?” Falou, com um sorriso sarcástico no rosto.
“...Não é bem uma condição, mas eu quero ajuda também.” Daniel falou, decidido. “Eu quero ajuda pra encontrar meu passado.” Agora encarou o casal que estava ao seu lado. Pararam de andar. Os dois se entreolharam e ficaram em silêncio por um instante.
“Certo, veremos o que faremos a respeito.” Aeron falou, Míriël o encarou com um olhar enfurecido. O homem de cabelos brancos resolveu fazer algo que satisfizesse a Elfa. “Claro que, nós dois não poderemos te ajudar. Mas... Arranjaremos alguém.”
O humano de olhos azuis assentiu, com isso estava satisfeito. Sim, a coisa mais importante para ele era seu passado, mesmo que não se lembrasse. Não possuía nenhuma memória do que havia ocorrido em sua vida. Apenas as de um ano atrás, quando acordou naquele reino estranho.
E nada daquilo que lembrava do reino foi esquecido.
Afterlife
Eu ouvia a música das ambulâncias, minha visão desfocada, uma garota chorando ao meu lado. Eu via tudo passando em câmera lenta. Sentia o sangue escorrer. Sentia o asfalto arranhando meu rosto. Sentia uma dor, agora parecendo sumir. Meus olhos estavam se fechando. Não conseguia ouvir mais nada, absolutamente nada. As batidas do meu coração pareciam ficar mais lentas... Até que tudo ficou preto.
Deuses da Morte e Shinigamis
- Acorda Rukia! – Reclamou enquanto mexia em seus cabelos, desarrumando-os. Ouviu barulhos vindo de dentro de seu guarda roupa e a porta foi aberta rapidamente, sendo o pobre garoto atingido por um chute no meio do rosto.
- AI SUA MALUCA!! O que foi isso?? – Ele reclamou, caído no chão esfregando a mão na bochecha dolorida.
- Aff Ichigo, você não tem espírito esportivo! Estamos de férias, lembra? Pra que acordar a essa hora da manhã? – A garota de cabelos pretos e curtos falou em pé na frente do garoto. Estava usando um pijama, que por sinal pertencia a irmã menor de Ichigo.
- Cedo? São 10 horas da manhã dorminhoca! – Ichigo retrucou, irritado.
- Ah, tanto faz, continua sendo cedo. Fala sério Ichigo, você tem 15 anos, não acha que devia curtir as férias como um garoto normal? Você é gay por acaso? – Ela falou irritada.
- Cala a boca sua baixinha irritante! – Ele respondeu. – Como se eu pudesse curtir minhas férias normalmente vivendo com uma garota no meu guarda roupa! Não acha isso meio anormal?
- ... – Ela fez uma expressão pensativa, olhando para o lado. – Não. – Respondeu simplesmente.
- Ahhhh! Como você é irritante! – O ruivo falou irritado, levantando-se do chão e ficando de frente pra ela.
- Você que só sabe reclamar da vida... Deveria estar curtindo ela, não? – Rukia ironizou, adorava irritar aquele garoto.
- Tá, tá!! – Ichigo falou irritado. – Vai fazer o que hoje então? – Ele perguntou sem pensar.
- Bem nada... Tecnicamente eu moro a... Perai, você tá me chamando pra sair? – Ela provocou o ruivo, fazendo ele corar imediatamente.
- Eu não!! – Ele falou vermelho feito um tomate. Não acreditando no que acabou de falar. – Eu só tava querendo saber o que você ia fazer hoje, sua chata!
- Sei, sei. Você não me engana Ichigo! – Ela começou a rir da expressão vermelha e sem jeito do garoto. Depois que parou de rir, fez uma expressão pensativa. – Agora, pensando bem... Acho que vou ter de ir no Urahara.
- Vai fazer o que lá? – O garoto perguntou interessado. Parecia que eles nem tinham brigado antes... Era sempre assim. Brigavam, mas alguns minutos depois voltavam a se falar normalmente. Isso já fazia parte do cotidiano deles.
- Ah... Nem sei... Ele me falou para ir para lá... – Ela respondeu, depois ficou calada.
Nesse momento, houve um silencio constrangedor entre ambos, parecia até que um estava esperando o outro falar algo. Ichigo se sentia desconfortável, achava que deveria falar alguma coisa... Aliás, sabia que devia falar algo. Ele estava de férias, não era? Rukia também...
- Quer que eu te acompanhe? – Ichigo perguntou, corado e desviando o rosto. Coçou a cabeça. Aff, porque ele estava assim? Só ia acompanhar uma baixinha mesmo! Ninguém sabe que tipo de encrencas ela poderia se meter! Não havia nada demais nisso... Mas porque se sentia tão desconfortável?
- Era bom você ir mesmo... Talvez ele queira falar com você também. – Ela falou pensativa olhando para o lado. Depois fixou seu olhar no garoto a sua frente. Sorriu. - ...Você ta vermelho porque Ichigo?
- Eu não to vermelho, sua doida!! – Ele retrucou irritado e corado, fixando os olhos na pequena figura a sua frente.
- Tá sim, ó! – Rukia falou rindo apontando para as bochechas dele, rindo.
- To não, porra! – Ele respondeu irritado e vermelho. – E vai se arrumar pra a gente ir na loja do Urahara então! Ainda ta de pijama! – Mudou de assunto rapidamente, evitando olhar pra ela.
- Ei, você não pode falar de nada, sua abobora espetada! – Rukia retrucou, falando sobre o cabelo do garoto.
- Cala a boca baixinha!! – Ele respondeu.
É, assim foi a manhã dos dois. Depois disso, foram tomar banho, comer um cafezinho com torrada e logo depois saíram para a loja do Urahara. Quase na hora do almoço.
- Meu deus Ichigo, você atrasa muito! – Rukia reclamou enquanto os dois iam em direção à loja do Urahara.
- Ei! Quem foi que ficou procurando meia hora pelo celular!? – Ichigo retrucou irritado.
- Ah, mas isso é diferente! Você demora horas no banho, e olha que nem mulher é! Se bem que tenho minhas dúvidas nisso... – Rukia provocou, fingindo fazer uma expressão de pensativa.
- Vai cagar sua baixinha!! – Ichigo respondeu irritado.
Logo chegaram na loja do Urahara, encontrado um visão comum: Jinta e Ururu varrendo a frente da loja. E claro, Jinta estava puxando os cabelos da pobre garotinha, xingando ela de algumas coisas que ambos estavam muito longe para conseguir ouvir.
- Ei, pirralho. Cadê o Urahara? – Rukia perguntou ao garotinho ruivo na sua frente. O garoto ia responder, mas foi interrompido pelo barulho da porta da loja se abrindo.
Nesse momento, um homem grande com um bigode estranho e usando óculos chegou na frente deles.
- Oh, Rukia-sama! Vejo que veio! Urahara-san está esperando você... – Tessai falou, mostrando ela a entrada da loja.
- Certo, obrigada Tessai. – Rukia agradeceu, logo entrando dentro da loja. Ichigo apenas seguiu-a calado, olhando para as estantes da loja.
- Ah, Rukia-san! – Ouviu uma voz familiar chamando-a. A garota olhou procurando de onde a voz vinha, logo viu Urahara com seu leque abanando-o. – Trouxe o Kurosaki-san também, hm... Me sigam, tenho algo a mostrar para vocês! – Ele falou, virando-se e começando a andar.
Rukia e Ichigo seguiram ele, ambos calados. Perceberam que ele estava indo em direção ao “porão” que tinha... se é que aquilo podia ser chamado de porão né.
- Não tem a mínima idéia do que veio fazer aqui, Rukia? – Ichigo perguntou, puxando assunto com a baixinha de cabelos pretos.
- Não faço a mínima idéia, mas deve ser importante. – Ela respondeu simplesmente, ainda olhando para frente mesmo que o ruivo continuasse fitando-a.
Ainda seguindo Urahara, chegaram ao “porão”. Lá, viram uma coisa que não viam há um bom tempo... Um portal.
- Então... Kurosaki-san e Kuchiki-san... Era isso o que eu queria mostrar a vocês. – Falou o loiro mostrando o portal. - Na verdade, eu só tinha chamado a Rukia-san, mas eu sabia que o Kurosaki-san também viria...
- Como assim você sabia? – Ichigo falou irritado.
- Pra que serve? – Rukia interrompeu o Ichigo, perguntando ao Urahara.
- Esse portal... É a coisa mais incrível que eu já inventei... É muito útil mas bastante perigoso. – Urahara falou aos dois, dando breves pausas na sua fala. – Ele atravessa mundos. – Concluiu.
Ichigo e Rukia se entreolharam, não sabendo o que falar. Aquela informação era bastante importante e impressionou ambos bastante.
- ...Mas Hueco Mundo e a Soul Society não são mundos diferentes? – Ichigo perguntou.
- Não... Aí você se engana, são apenas dimensões diferentes... Esse portal daqui levaria um grupo de pessoas para mundos completamente diferentes... – Urahara explicou.
- Mas porque... Porque mostrar isso para a gente? – Rukia perguntou, ainda confusa e olhando o portal admirada.
- Hmm, não sei... Achei que vocês deveriam saber. Algo me diz que isso mudará suas vidas para sempre. – O loiro falou misteriosamente, sorrindo e não dando uma resposta concreta. – E vocês vêm me ajudando bastante, acho que seria honesto da minha parte mostrar isso a vocês.
De repente ouve-se a voz de alguém chamando pelo Urahara. Era Tessai.
- Urahara-san, desculpe interromper assim... Mas parece que a Yoruichi-sama não está encontrando o seu leite para o almoço...
- Ah é! O almoço! E acho que acabou o estoque de leite... Que inconveniente... – Urahara respondeu. Depois fitou os dois jovens na sua frente. – Bem, vou resolver isso, já volto... – Mas de repente virou-se e olhou para Rukia. – Rukia-san, só mais uma coisa... Seu número de roupa é 12, não é?
Rukia estranhou a pergunta, mas resolveu responder.
- É sim... – Respondeu simplesmente, ainda estranhando.
- Certo, então escolhi certo. – Ele falou. Rukia e Ichigo ficaram confusos com aquela fala e ficaram fitando o loiro. – Já volto!
Ichigo e Rukia assentiram e ficaram esperando ali. Ambos estavam entediados, isso era um fato. Então, a garota de cabelos pretos resolveu olhar aquele portal. Ichigo apenas ficou observando-a, parecia até uma criança. A baixinha estava bem próxima ao portal.
- Rukia, não chegue tão perto... Ai você é sugada e depois não sabe porque né! – Ele reprovou-a, reclamando.
- Aff, para com isso Ichigo! O que poderia acontecer?
Isso foi a única coisa que bastou para o portal começar a puxar a garota com uma força incrível. Ichigo percebeu isso, e correu até ela na maior velocidade que pode. Ela gritou, pois ser puxada contra sua vontade não era nada agradável.
- RUKIA! – Ichigo gritou seu nome, estendendo a mão para a garota. Ela também estendeu a sua, seus dedos se tocaram, até que ele conseguiu segurar sua mão.
Ichigo não conseguiu puxar ela para fora do portal, acabou sendo puxado para dentro junto com ela, mas continuavam de mãos dadas. Talvez assim não se separassem. Pelo menos assim Ichigo teria certeza de que ela estava bem. Assim ela estaria ao seu alcance... Estavam à sós, numa escuridão completa sendo puxados para algum lugar.
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Naruto e Sakura estavam no campo gramado, esperando pelo Kakashi para poderem ser informados sobre nova missão. Como sempre, Kakashi estava atrasado. Então, Naruto e Sakura conversavam no gramado.
- Meu deus! Estou muito entediada! Kakashi-sensei sempre atrasa! – Sakura falou emburrada, sentada ao lado do loiro.
- Haha... Mas você sabe como ele é né, dattebayo. – Naruto respondeu, complementando o que a garota de cabelos róseos havia falado.
- Pois é! Mas irrita! – Sakura bufou, irritada. – Eu já tinha até me esquecido que ele era assim... Faz tempo que a gente não faz uma missão com ele.
- Sei disso, Sakura-chan... Que tal aproveitar o momento para uma dormidinha, dattebayo? – O garoto fechou os olhos e deitou na grama, sentindo a leve brisa bater em seu rosto.
- Ahhh! Mas eu to entediada, Naruto! – Ela reclamou de novo.
- Te prometo que esse tédio já passa... – Naruto falou ainda de olhos fechados.
E o que ele prometeu realmente foi cumprido. Nesse exato momento, um buraco é aberto no céu e duas pessoas de mãos dadas caem do céu em cima de Naruto e Sakura.
A cena é fácil de se imaginar. Imagine um montinho de gente em posições estranhas e desconfortáveis gritando o seguinte:
- AH! O QUE É ISSO DATTEBAYO!?
- TO MORRENDO SUFOCADA!! NARUTO, FAZ ALGUMA COISA!!
- ACHO QUE QUEBREI ALGUMA COISA, ICHIGO!
- SAI DE CIMA DE MIM, DATTEBAYO!
- QUE MANIA GAY É ESSA DE FALAR DATTEBAYO, PORRA?!
- VAI CAGAR!! NEM TE CONHEÇO DATTEBAYO!!
- DÁ PRA SAIR DE CIMA DE MIM, SUA GORDA?
- A RUKIA É UM PALITO, TÁ FALTANDO FORÇA EM VOCÊ POR ACASO??
Foi só isso que bastou. Nesse momento, Sakura se levantou e jogou todos para os lados, conseqüentemente Naruto também. Estava com uma expressão irritada.
- Quem aí me chamou de fraca...? – Falou ela com uma expressão séria e demoníaca, puxando sua luva, como se estivesse se preparando para socar.
- Sakura-chan, você tá soltando uma aura estranha... – Naruto falou se afastando, com medo.
- Cala a boca Naruto. - Ela se aproximou de Ichigo e pegou ele pela gola da camisa. – FOI VOCÊ? HEIN? RESPONDE SEU RETARDADO!
- Me solta! Nem te conheço, machona! – O garoto de cabelos laranjas respondeu irritado ao ser chacoalhado pela garota de cabelos rosas.
- Ora seu... – Deu um soco em Ichigo. Sim, aquilo era um soco que o coitado jamais esqueceria. Certeiro, bem no meio da bochecha. Ele sempre havia sonhado em voar, dessa vez conseguira alguns metros.
Rukia olhou aquilo espantada. Concluiu que as pessoas que moravam nesse mundo possuíam algum tipo de super poder, super força ou algo do tipo. Mas definitivamente não eram normais. Bem, ela própria não podia ser tachada de normal, já que ela possuía poderes Shinigamis e o Ichigo também.
Sakura se virou para Rukia, fazendo a pequena shinigami recuar um pouco no chão.
- Quem são vocês? O que querem? – A garota de cabelos rosas foi direta e séria. Percebia que esses dois estranhos usavam roupas estranhas, coisas que não haviam nesse mundo e que definitivamente não parecia ser roupas ninjas.
- Sakura-chan!! Não precisa dessa grosseria toda, dattebayo! – Naruto apareceu atrás dela.
- Eles podem ser inimigos! Olha só como se vestem! – Sakura exclamou, apontando para a roupa de Rukia.
Rukia estava usando um short jeans, uma blusa folgada listrada de manga comprida e usando uma sapatilha.
Já Ichigo estava usando uma blusa apertada azul, calça jeans meio folgada e um par de tênis. Também estava usando uma munhequeira preta.
- Verdade dattebayo... Mas eles parecem ser bem fracos! – O garoto riu, olhando para a cara de bunda de Ichigo que havia sido nocauteado pelo murro de Sakura.
Rukia suspirou e resolveu se levantar, batendo a mão na sua blusa para tirar a sujeira. Depois fitou o olhar no par de pessoas desconhecidas.
- Eu sou Rukia, prazer. Aquele bundão ali é o Ichigo... – A garota de olhos azuis profundos explicou apontando para o garoto, que de imediato retrucou a fala dela com algumas palavras feias que ela resolveu ignorar. – Pode ser difícil de engolir, mas... Não somos desse mundo. Acabamos vindo pra cá por meio de um acidente e... Não sabemos como voltar.
Naruto e Sakura olhavam surpreendidos para a garota de cabelos pretos na sua frente. Outro mundo? Hah, só podiam estar brincando...
Ichigo logo foi para o lado de Rukia, ficando de frente para os outros dois. Ficaram se encarando por um tempo, não sabendo o que falar.
- Vocês não vão se apresentar não? – Ichigo reclamou, olhando para os dois. – Além de que, que roupa agasalhada é essa cara, não tá com calor não? – Ichigo falou olhando a roupa de Naruto.
- Não enche, dattebayo!! – Naruto retrucou irritado. – Meu nome é Naruto, e essa é a...
- Sakura. – Ela falou séria. – Vocês vieram de outro mundo é? Sei... – A garota de cabelos róseos ironizou.
- Mas é verdade, Sakura. – Uma voz familiar falou para a garota. Ela olhou para trás e viu. Era Kakashi. – Você pode perceber logo que eles não emanam nenhum tipo de chakra...
- Haha! Esse cara não tem chakra, que fracote, dattebayo! – Naruto riu da cara de Ichigo.
- Ah é? Não posso ter “chakra” mas aposto que meu soco é bem mais forte que o seu! - Berrou irritado, cerrando os punhos.
- Parem os dois! – Rukia falou decidida. Sakura olhou para a baixinha... Era menor que ela, engraçado... Parecia até ser mais madura e adulta. Tão decidida...
Rukia fitou Kakashi, olhando para ele com uma expressão séria.
- Você tava falando que a gente não emana nenhum tipo de “chakra”, certo? Isso significa que talvez temos poder espiritual aqui, Ichigo! Para pra pensar um pouco! – Ela falou para Ichigo, que logo fitou a garota e parou de brigar com Naruto. – E quanto à você... – Apontou para Kakashi. – Me fale mais sobre “chakra”.
Kakashi olhou surpreso para ela, afinal, ela era a mais baixinha. Mas já era mais madura de todos os jovens dali. Na verdade, Rukia já tinha passado dos 100 anos... Mas pouco Kakashi, Sakura e Naruto sabiam disso.
Kakashi riu e suspirou. Eles eram interessantes, queria saber mais a respeito disso... Talvez de alguma forma talvez até fossem úteis. Explicou tudo que sabia sobre chakra para a pequena garota na sua frente. E ela parecia bastante interessada.
Após a explicação, Rukia se virou e encarou Ichigo, retirando do bolso de seu short a sua luva.
- Ichigo, temos que descobrir se você ainda tem os poderes de... – Rukia falava enquanto botava sua luva.
- Eu sei. – Ele sorriu e assentiu.
Assim, ela empurrou sua mão contra o peito do garoto, fazendo sua alma sair e seu corpo cair no chão.
Kakashi, Naruto e Sakura olhavam espantados para aquilo.
- ...Err, o que você acabou de fazer, dattebayo? – Naruto perguntou, olhando para o corpo de Ichigo no chão.
- Nada demais. Só tirei a alma do corpo dele. – Rukia explicou olhando para o nada, isso na visão do time Kakashi. Porque Rukia estava olhando era para o Ichigo. Uma gota apareceu no rosto de Kakashi. Sakura olhava aquilo incrédula, enquanto Naruto olhava para Rukia com medo.
- ...Você matou ele, tecnicamente...? – Sakura perguntou, olhando para o corpo imóvel do garoto de cabelos laranjas.
- ...Na verdade não. Mas acho que poderia dizer que sim, já que aquilo ali é um corpo sem alma... – Rukia falou meio pensativa. – Vamos lá Ichigo, vê se consegue dar um Getsuga Tenshou. – Rukia falava olhando em direção a uma arvore... E isso de novo na visão do time Kakashi, porque ela estava olhando para o Ichigo.
- ...O que ela ta fazendo, dattebayo?! – Naruto cochichou para Sakura.
- ...Não faço a mínima idéia! – Sakura respondeu, assustada. – Você sabe, Kakashi-sensei?
- ... – Ele não respondeu nada.
- Pronto, acho que isso já confirma tudo, agora volte ao seu corpo! – Rukia falou, tirando a luva e guardando ela no bolso. – E para de resmungar, seu dente de leão!
Kakashi, Naruto e Sakura logo viram o corpo de Ichigo flutuando no ar e de repente ganhando vida. Ichigo se estralou um pouco e depois foi em direção da Rukia.
- AFINAL, O QUE VOCÊS SÃO?! – Naruto gritou indignado, estranhando tudo aquilo. Kakashi e Sakura olharam para Naruto, assim como Ichigo e Rukia.
Ao ouvir a pergunta, Rukia olhou para o Ichigo, como se tivesse perguntando se contava ou não a verdade para eles. Ichigo balançou a cabeça em afirmação. Rukia suspirou e olhou para o trio na sua frente.
- Nós somos... Shinigamis. – Ela declarou.
O time Kakashi não entendia mais nada, absolutamente nada. Claro que eles sabiam o que Shinigami significava... Mas como eles podiam ser? Vieram de outro mundo? Como assim?
Fim do capítulo 1.
Bônus:
Naruto: Olha só o nome do capítulo, dattebayo! “Cair do céu é o pior meio de começar uma amizade” AHAHAHA, BOTA FÉ DATTEBAYO
Ichigo: Cara, vou ser sincero e grosso agora...
Rukia: Mais do que já é?
Ichigo: Cala a boca, cabeçuda. Naruto, você parece um gay falando dattebayo toda hora! Puta que pariu, mania chata e irritante!
Rukia: Cabeçuda? Pior você que tem uma cabeça descolorida. Acho que quando você foi no cabeleireiro descolorir, você disse “capricha” mas o cabeleireiro entendeu “pra bicha”. AHAHAHA, humilhey ~
Ichigo: Vai cagar, baixinha irritante!
Teh: Aff cara, não sabem parar de brigar não? E_E”
Ichigo: NÃO! E ta fazendo o que aqui, sua ótaria?
Teh: Sou a escritora da fic ué E_E” Posso até fazer você assumir que é gay ou coisa do tipo u_u’
Naruto: Se fudeu, dattebayo!
Ichigo: Você não ousaria, sua vaca...
Teh: Cogumelo ok? E eu ouso sim, sou muito ousada rapá [?] Sinta minha ira.
Ichigo: olha gente tenho uma coisa a declarar mas não é nada de ser gay ta eu sou um garoto saudável tenho uma vida saudável não sou excluído da sociedade faço academia três vezes na semana e sabe que o mundo ta cheio de poluição e violência né aff eu estou sob muita pressão tenho que falar eu sou gay ta nada contra os gays eu amo o naruto nunca peguei a rukia por isso não me julguem ta finalmente nessa fic vou poder passar momentos a sós com ele momentos fofos sozinhos honestos e flores
Ichigo: AHHH! SUA MALDITA!!!!! VOU TE MATAR, AHH!! EU NÃO FALEI ISSO!!
Teh: Esse foi o capítulo, ok! Espero que tenham gostado, comentem bastante! Comentários pra mim são como a calda no sorvete, quanto mais calda, mais gostoso o sorvete fica! [para os retardados que não entenderam, o sorvete é a fic *apedrejada*]
Sakura: Nossa, você compara sua fic com comida e ainda xinga os leitores! E_E”
Teh: Vem cá Sakura *3* Você e a Rukia *3* Deixa esses bundões pra lá, vocês merecem algo melhor e mais rápidos, alguém que tome atitude! *-*
Sakura e Rukia: Comoé/
Teh: Enfim... Comentem bastante!! Ainda tem muito pra acontecer nessa fic! Bgs fui
O lobisomem
O cenário era um cemitério, um cenário comum para histórias de terror. Tudo era realmente terrível.
A luz do luar iluminava aquele lugar sombrio. Havia sangue no chão de pedras. Manchas de vermelho.
O animal era assustador. Sangue fresco ecorrendo de sua mandíbula. Sangue fresco. Atrás dele habia um cadavér mutilado. Roupas vermelhas de sangue estavam rasgadas.
Noites de lua cheia eram sempre assim, cheias de morte, tristeza. A cor vermelha era sua caracteristica principal.
Ele era um lobisomem. Também era humano, pelo menos metade de si era. Como humano, possuía sentimentos. Sentimentos que foram mortos essa noite.
A pessoa que mais amava estava suja de sangue. Deveria se suicidar, talvez fosse a melhor opção. A ultima coisa que queria era machucar pessoas... Matá-las.
Havia aguentado a pressão e a dor por vários anos pois tinha uma razão de viver... Que foi morta nessa noite de lua cheia... Por suas terríveis garras. Antes, não podia abandoná-la, havia feito uma promessa que estaria sempre ao seu lado. Uma promessa agora inválida.
Lentamente, se transformava em humano e seus sentimentos voltavam.
De novo, se deparava com a cena. Dor invadia seu peito... Havia feito de novo. Havia matado de novo.
Pegou uma corrente de prata que havia na amada falecida. Amarrou-a ao redor do próprio pescoço e não pesou duas vezes; puxou-a.
A prata atuava como veneno, entrando em suas veias, matando o lentamente e dolorosamente. Merecia isso.
Sim, o cenário era um cemitério... Um cenário comum para histórias tristes.
Lágrimas e Sangue
Primeiro irei te explicar porque você está lendo esse livro. Provavelmente porque você é uma pessoa bastante curiosa, inteligente e que tem bastante cultura. Talvez esteja sem nada pra fazer. Talvez tenha achado a capa bonitinha(que não é nada bonitinha). Ou talvez tenha gostado da contra-capa.
Mas, se comprou esse livro com o intuito de se divertir, sinto muito, mas não conseguirá se divertir nem um pouco. Há uma grande chance que esse livro te faça chorar, não pelo fato dos personagens serem cativantes ou coisa do tipo, mas sim pelos acontecimentos. Talvez você tenha comprado esse livro justamente por causa desse motivo. Então eu recomendo pra você.
Deve estar se perguntando, quem sou eu? Eu sou aquele tipo de pessoa que você não quer conhecer. Que traz infelicidade e sofrimento por todo lugar que ando. Sou indesejada, depressiva. Mas faço meu trabalho.
Essa história fala sobre uma menina, uma menina um tanto que especial. A vida dela é cheia de tristezas, lágrimas.
Limos, esse era seu nome.