Era estranho. Agora, eu estava ali, nesse mesmo mundo. Não me lembro de nada, apenas desse incidente. Eu estou morto, provavelmente. Não era legal. Nem sei há quanto tempo eu morri. Eu queria poder encontrar outros “espíritos” também, mas parece que eu sou o único. Além de que, e se tudo isso for apenas um sonho muito bem elaborado?
Ficar sozinho eternamente não é legal.
Será que é isso o que as pessoas chamam de céu?
A única coisa que posso fazer é observar. Sou um observador.
Já te falei que não me lembro de nada? A única coisa que eu sei é que eu morri, tenho aparência de um garoto de 16 ou 17 anos, tenho cabelos castanhos e olhos verdes. Minha roupa é de um adolescente normal, uma jaqueta azul escuro e uma calça jeans meio rasgada. Também um tênis aí.
É um saco você não saber quem é, de onde veio ou que porra você ta fazendo andando por ai.
Se isso era céu, definitivamente não acredito mais em Deus. Não parece mais ser a pessoa bondosa e misericordiosa que vimos nas histórias.
O que eu estou fazendo agora não é muito importante, já que eu só estou andando pela cidade. Ainda me lembro de onde morri. Foi na frente de um restaurante chinês. Sempre vou pra lá quando posso, talvez com esperanças de recuperar minhas memórias perdidas.
Sempre fico sentado, esperando ver um rosto conhecido. Algo que me lembrasse... Mas ta, sei que é inútil. Mas o que eu mais posso fazer? Eu estou morto, afinal.
Então, hoje era mais um dia monótono. Eu gostava de observar pessoas, famílias. Já que eu podia passar por paredes. Ao mesmo tempo era divertido ser um espírito, mas ao mesmo tempo era muito doloroso.
Voltando ao assunto, eu estava sentado na frente daquele restaurante chinês. Vendo as pessoas passarem. As pessoas passavam na minha frente, ninguém me via. Isso incomodava.
Algo me chamou a atenção... Alguém, pra dizer ao certo. Uma garota de cabelos pretos e curtos. De certo modo, parecia um menino. Mas não foi por isso que ela me chamou a atenção... Foi porque eu tive a sensação de que eu já tinha visto ela antes. Um dejà-vu.
Arregalei os olhos e continuei fitando ela. Será que eu deveria segui-la? Ela não iria me ver mesmo. É, eu faria isso.
Imediatamente passei a segui-la. Ela estava usando uma jaqueta amarela, com umas estampas de caveiras. Calças quadriculadas, um tênis all-star, eu acho. Estava andando com as mãos dentro dos bolsos das jaquetas. E não, ela não estava usando nenhum tipo de maquiagem, só tinha uma aparência meio de menino mesmo. Era estranha.
Fui seguindo ela até a casa dela, aparentava ser grande mesmo. Quando ela chegou em casa, abriu a porta e entrou. A sala era bem grande e espaçosa, decorada com móveis que aparentavam ser luxuosos. Imediatamente quando entrou, correu para as escadas parecendo que estava fugindo de alguma coisa, o que eu não entendi na hora.
- Ei, Rose! Venha jantar! – Ouve-se o grito fino de uma mulher. Só depois vim perceber que a mulher era mãe dela. Ah, consegui também descobrir o nome da garota, que era muito mais feminino que sua aparência.
A garota simplesmente fechou a porta do quarto com força. Eu entrei no quarto mesmo assim né, eu estava em forma de espírito e ela não iria me ver.
Vi que ela estava segurando uma foto. Ela estava segurando uma foto e olhando melancolicamente para a mesma.
- Desculpa pai... Eu acabei não vingando você... – Ela estava prestes a chorar. – Eu... não vou cometer o mesmo erro...
Fiquei com pena dela. Ela havia perdido o pai... Sentei do lado dela, também querendo observar a foto.
Mas imediatamente ela deu um pulo e olhou diretamente pra mim assustada. Eu não pude deixar de me assustar também. Ela largou a foto e caiu da cama.
- Quem é você?! O que você ta fazendo no meu quarto?! – Gritou assustada, olhando pra mim. Perai... ELA PODIA ME VER! CARAMBA, ELA PODE ME VER! Mas não é hora de comemorar, tenho que resolver isso primeiro.
- Você pode me ver?? – Eita, acabei fazendo uma pergunta óbvia demais. Mas já foi, estou feliz demais com essa situação.
- O que?! Como assim?! Sai daqui!!! – Ela foi me puxar, mesmo tendo suas dúvidas sobre mim. Mas ela não conseguiu pegar meu braço. A mão dela simplesmente passou por mim como se eu fosse ar. Deu um frio na barriga quando ela fez isso.
Ela olhou pra mim assustada, arregalando os olhos. Lógico, qualquer um ficaria assim depois de ver um cara estranho em seu quarto que por coincidência é como se fosse ar. Ou seja, um espírito.
- Eu devo estar louca. Eu devo estar louca. – Ela murmurava para si mesma, com as mãos na cabeça. Ainda estava assustada, agora sentada no canto do quarto.
- Ei, ei, ei! O que tem de mal em me ver? Não acha que justamente por eu ser um espírito eu não tenho como fazer nada com você? – Eu falei imediatamente, parecendo desesperado.
Ela fitou meus olhos verdes, agora decidida a fazer alguma coisa. Ela tinha olhos azuis escuros, eram bonitos.
- Quem é você então? O que ta fazendo aqui? – Ela perguntou, irritada. Acho que ela ainda não gostava da idéia de ter um desconhecido em seu quarto. Ah, que diferença eu faria ali? Eu sou que nem ar mesmo.
- Eu não sei quem eu sou. E eu te segui porque eu tive uma sensação de que eu já tinha te visto antes. – Tentei explicar a ela. Ela ainda parecia estar bem duvidosa quanto a minha existência, mas tudo bem.
- Só por causa disso? – Perguntou incrédula.
- Cara, eu passo todos os dias sem fazer nada, sem falar com ninguém, sozinho. Nem me lembro da minha vida passada. Então, essa sensação poderia vir a ser útil. – Tentei mais uma vez. Mas ela nunca passou por isso, aí não sabe o quanto desesperador isso é.
- Mas eu não te conheço. – Ela adicionou obviamente.
- É verdade... Mas você pode me ver, já é um começo. – Agora dei meu melhor para sorrir para ela. Talvez de felicidade mesmo. Eu tinha sorte que uma garota podia me ver, aliás, que alguém podia me ver. Meus dias a partir de hoje não seriam tão solitários.
Ela ficou perplexa com meu sorriso, era de se esperar. Talvez ela não tenha entendido porque eu estava tão feliz que alguém pudesse me ver. Ela virou o rosto desconfortavelmente e cruzou os braços.
- Meu nome é Rose. – Ela murmurou suficientemente alto para que eu ouvisse. Mas eu já sabia o nome dela.
- Eu queria poder falar meu nome também, mas infelizmente não sei quem eu sou. – Eu falei. Até soava cômico, eu poderia fazer algumas piadas com isso.
- Você não se lembra de nada? – Agora ela se levantou, estávamos a alguns metros de distancia. Percebi que ela era pelo menos 15 centímetros mais baixa do que eu. Ou talvez eu fosse 15 centímetros mais alto que ela. Nem sei minha idade, né.
- Absolutamente nada. Nem de quando eu morri. Só alguns detalhes inúteis que envolvem um restaurante chinês e uma garota ruiva embaçada. – Eu falei. Rose apenas me fitou.
- Ta, e agora? Vai me amaldiçoar ou algo do tipo? – Ela perguntou, irritada e impaciente. Batia o pé.
- Lógico que não!! – Respondi desesperado. Nossa, eu preciso de uma terapia. – Pra que eu iria amaldiçoar a única pessoa que pode me ver? Não faz sentido!
- Sei... – Rose falou meio duvidosa. Porque ela era tão cabeça dura quando o assunto era acreditar em mim ou não? – Ai meu deus, que saco. – Agora ela parecia estar bem irritada. Eu devia incomodar mesmo.
- Eu te incomodo? – Eu queria saber, né.
- Não, imagina. – Ela respondeu, irônica e irritada. Nossa, precisava ser tão direta? Que garota malvada.
- Ta, vamos fazer um acordo então, mesmo tendo muitas consequências para minha parte. – Eu falei. Acho que valia a pena. – Você ajuda a descobrir quem eu sou, como eu morri, porque eu morri, quem era minha família, e eu te deixo em paz.
- Aff, porque eu tenho que fazer alguma coisa? – Ela perguntou, fitando a parede incomodada.
- Eu também não vou sair daqui sem ganhar nada. Fique agradecida por eu não ficar te assombrando a noite, garotinha. – Falei tentando dar um pouco de medo.
- Hah, que graça você hein. Muito engraçado. – Ironizou.
- Vai me ajudar ou não? – Insisti.
- Isso vai dar um trabalho... – Ela reclamou. Mas realmente estava pensando no assunto.
- Vai ou não? – Perguntei mais uma vez.
- Ta, eu vou. Mas você tem que me deixar em paz depois disso. Odeio ter homem no meu pé. – Rose falou olhando para suas unhas como se estivesse se gabando.
- Nossa, tem certeza que você é uma garota? – Eu resolvi ironizar também.
- Ta me tirando? – Olhou pra mim irritada.
- Você que ta me tirando. – Eu respondi.
Ficamos nos encarando por um tempo. Até que ela foi em direção ao armário e tirou umas roupas dali.
- Não invente de passar pela parede. – Ela avisou friamente, enquanto entrava no banheiro. Hah, atravessar a parede... Porque no mundo eu atravessaria a parede... pra ver ela se trocando? Err... Ta, ela é uma mulher e eu sou um homem(muito macho viu)... Mas eu ainda tenho orgulho e não sou canalha.
Não demorou muito para ela sair do banheiro. E ela saiu de pijamas. Que era uma calça e uma blusa de manga comprida. Caramba, até pra dormir ela não mostrava o corpo mais um pouquinho? Err... não é como se eu quisesse ver, ta?
Ela foi pro lado da cama e ligou o ar-condicionador. Ela deve sentir muito frio de noite, foi o que eu supus na hora.
- Já vai dormir? – Eu perguntei, incrédulo ao ver que ela já estava se deitando na cama e se enrolando com o edredom. – E comigo aqui?
- Ué, você é uma alma. Não faz diferença alguma. E também não tem pra onde ir, não é? – Ela falou, não olhando pra mim. Percebi que ela podia ser legal às vezes... Ah, eu tinha acabado de conhecer ela. Estou carente demais, que deprimente.
- Obrigado. – Acabei falando, apesar de o meu orgulho estar me enforcando no momento.
- Você não sente sono? – Ela me perguntou, um pouco curiosa. Não parecia estar fria como antes, achei isso legal por parte dela, ao menos.
- Nem um pingo. – Respondi simplesmente. E era verdade. Eu não sinto fome, nem sono, nem me sujo... Sou simplesmente um ar em formato humano que fala.
- Boa noite... – Ela falou, agora se cobrindo completamente com o edredom. E falo completamente mesmo, ela ficou toda coberta, literalmente, do edredom. Parecia que tava se escondendo. Acho que ela deve sentir muito frio mesmo.
- Durma bem... – Falei por ultimo.
Passei a noite observando aquela garota que mudaria minha vida. Ou pós-vida.
domingo, 2 de agosto de 2009
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3 comentários:
Mto boa teh, qero ler mais esa historia xDD
Minha nossa.. cada vez mais interessado em suas historias :* ~ cada vez mais arrazando *-* :P
e colocando eu no caminho da leitura =D
Poxa Teh, uma história e nem pra me avisar?
Caralho, fiquei chateada agora. E uma puta de uma história, não?
Então, tem mais capítulos? Eu simplesmente AMEI. e é sério (Y)
Aqui, esse treco dela dormir com o cobertor até a cabeça deve ter algum significado, não?
huum... Uma ruiva? Uma ruiva é algo interessante :xx
MAS SE DEIXAR DE ME AVISAR DOS PRÓXIMOS CAPÍTULO, ONDE, QUANDO E PORQUE, VAI ROLAR SANGUE VIIIU SRA. CABELOS DE FOGO :xx
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