domingo, 3 de outubro de 2010
Noites no Cemitério
NOITE I
Era uma vez um garoto que gostava de ir ao cemitério.
Ia todas as noites antes da meia-noite. Não passava o tempo todo na frente de somente um túmulo, se interessava por todos. Sabia o nome de todas as pessoas que estavam enterradas ali. A cidade era pequena, então o cemitério não tinha segurança e o mesmo valia para a capela, que se alojava nela sempre que podia. Começou a frequentar o cemitério com cerca de 14 anos, depois que perdeu seu avô.
Gostava de ir para lá porque era um lugar calmo e tranquilo, e sabia que nunca seria perturbado ali. Afinal, quem ia pro cemitério no meio da noite? Ia para ler e estudar, mas não eram matérias de colégio. Suas leituras incluíam livros de ocultismo, grimórios de bruxos famosos, livros de demonologia, anjologia, vampiros... Tinha um enorme interesse por esses assuntos. Já tinha perdido a conta de quantos livros já tinha lido sobre isso.
Seu lugar preferido no cemitério era as escadas da capela. A igreja era alta, então suas escadas davam uma boa ideia do tamanho do cemitério. Para poder ler a noite, sempre acendia uma vela ao seu lado, nas escadas.
A lua estava cheia, alta no céu. As estrelas dançavam ao seu redor. Era uma vista agradável de se ver, enquanto caminhava na calçada de concreto até o cemitério. Não era muito longe de sua casa: provavelmente uma caminhada de vinte minutos. Estava segurando em uma de suas mãos um livro de necromancia e no seu outro ombro estava a alça de sua bolsa, em que carregava materiais para feitiços e poções de todo tipo.
O cemitério tinha duas entradas, já que era em uma esquina. Sempre entrava pela entrada da frente, que tinha um caminho direto para as escadas da igreja. A entrada da lateral era feita para visitar os túmulos, e o caminho era posicionado entre os próprios.
Enquanto passava pela entrada, pôde ver do outro lado do cemitério um túmulo recente. Provavelmente houve um funeral de dia. Deixou sua bolsa e seu livro nas escadas da capela e andou até o túmulo recente.
"Louise Andrews Foster
(1979 - 2010)
Mãe amada pelos filhos."
Não sabia quem era. Também, sua vida social era praticamente inexistente, passava a maior parte de seu tempo se escondendo das pessoas. Na escola era visto como o esquisito. Se metia em brigas mais que várias vezes, apanhava de vez em quando, mas quando lutava, ganhava. Isso deu às pessoas em sua escola uma imagem de medo à ele, ainda mais quando a escola era católica.
Depois de ter lido o nome, voltou às escadas e acendeu sua vela. Iria começar sua leitura. Estava a procura de um feitiço ou poção para reviver os mortos. Até agora em todos livros que tinha lido, tinha achado poucas referências, mas não iria desistir. Mas teria que achar um corpo para poder testá-lo...
Ouviu um barulho do outro lado do cemitério.
Não podia ver de onde estava vindo porque tinha o muro ao lado das escadas. Lentamente pôs a cabeça em cima do muro e viu o que estava acontecendo.
Uma garota estava na frente do túmulo recente. Percebeu que ela estava chorando e soluçando. Chorando muito alto, quase gritando. Dava até pena de ver uma garota tão bonita como ela chorando. Ela não fazia o mínimo esforço para enxugar suas lágrimas, só queria deixar escorrerem. Seus longos cabelos negros estavam assanhados, indicando que tinha vindo correndo. Naquele escuro, não se podia ver seus olhos.
"Essa deve ser a filha da defunta." Pensou, enquanto voltava a sua leitura. Infelizmente, ele fora interrompido. Não conseguia se concentrar por conta do barulho que ela estava fazendo.
A garota gritava do outro lado do muro.
"Porque você fez isso!? Porque você me deixou!?" Gritava e chorava. "EU TE ODEIO!" Começou a chorar mais baixo de novo, afundando o rosto em suas mãos.
Isso durou por cerca de uma hora, até que ela decidiu ir embora. O único pensamento que o garoto tinha em sua mente era:
"Finalmente."
Suspirou com alívio. Poderia voltar a sua leitura e pesquisa agora. Continuou lendo o livro até terminá-lo, o que foi cerca de três horas, já que estava na metade antes de chegar ao cemitério. Após isso voltou para casa pouco depois de três horas da manhã.
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